17 de out. de 2014

Conto: Desaparecidos

 Era um quartinho muito escuro e apertado, mas Clara não tinha outro lugar para se esconder. Tinha que ficar ali, imóvel e em silêncio, o que era quase impossível, já que ofegava muito e estava quase chorando.
 Clara ouve alguns passos por cima de sua cabeça e uma quantidade absurda de pó cai em seus cabelos. Alguém andava no andar de cima. Poderia ser alguma autoridade, afinal ela havia conseguido estabelecer contato com a policia antes daquele louco quebrar seu celular. Mas mesmo assim, ela não poderia sair de seu esconderijo. Era muito arriscado.
 O barulho dos passos percorreu toda a escada e então parou. A garota já não sabia mais como controlar sua tremedeira quando voltou a ouvir aquele assoalho velho rangendo. Por uma pequena fresta em sua porta, ela podia ver um homem parado de costas pra ela. O sujeito não era muito grande e vestia roupas normais. Não dava pra acreditar que ele tinha capacidade fazer o que fez. Mas Clara viu muito bem o modo como ele se divertia enquanto torturava seu namorado. O cara riu o último momento de agonia de sua vítima.
 A garota desejava voltar no tempo. Gostaria que seu namorado jamais tivesse sido convidado para tocar naquela cidade maluca. Assim eles não teriam atropelado aquele garotinho e fugido praquela casa abandonada. Mas era tarde demais. O sujeito ainda estava parado no mesmo lugar, como se estivesse tentando ouvir ou sentir o cheiro de sua presa. Ele vira na direção de Clara e começa a caminhar.
 Com o medo de morrer aumentando a cada segundo, ela se encolhe. O barulho de um facão atravessando a porta de seu esconderijo faz com que Clara grite muito alto. O sujeito continua esfaqueando a porta até abrir um buraco grande o suficiente para ele passar. Ele entra no quartinho sorrindo. Segura Clara pelo pescoço, encosta o facão em seu pescoço e então para. O som da campainha o interrompe.
 Depois de garantir que sua nova vítima estava muito bem amarrada, ele vai até a porta. Quem tinha tocado a campainha era um policial que dizia ter recebido um chamado daquela região. O sujeito disse que ele estava no endereço certo, pois seu filho de sete anos estava desaparecido a mais de 24 horas. Ele descreve o garoto ao policial e Clara se lembra na hora daquele pequeno cadáver que ela havia ajudado seu namorado a jogar no rio. O policial diz que vai procurar a criança e que deixará o sujeito informado.
 Quando o policial vai embora, o sujeito caminha novamente até a moça para terminar seu serviço. “Não se preocupe, senhorita. Vou garantir que seus pais a encontrem, do mesmo modo que eu encontrei meu filho.”

Por: Daniel Generalli

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