Conto: Tartaruga

Uma vez meu pai me levou pra passear na praia de noite, disse que tinha uma coisa para me mostrar. Eu não tinha ideia do que poderia ser, mas deveria ser algo muito legal pra precisar ir até a praia (de noite) para ver.

Quando chegamos lá, eu perguntei o que era, mas ele só me pediu para sentar.  Sentei e perguntei novamente o que era e ele me disse que eu tinha que aprender a ter paciência. Tem coisa que irrite mais do que ouvir isso? Não, né? Eu já estava começando a pensar que seria uma coisa bem chata.

Ficamos ali por, sei lá, uns dez minutos. Só olhando o mar e a lua aparecendo. Até que era uma parada bonita, mas eu não precisa ter perdido meu tempo e sujado a bunda de terra só pra ver aquilo. Mas de repente, a areia começou a tremer, como se algo fosse sair de lá.

Meu pai viu que eu estava com medo e começou a rir, disse que era isso que queria me mostrar. Ficamos olhando e vimos um monte de tartaruguinhas aparecendo e indo em direção ao mar. Meu pai me explicou que a mãe tartaruga botava os ovos e vazava, depois que os filhotes nasciam, eles encontravam o caminho pra casa sozinhos. Acho que tinha um lance desses no Procurando Nemo.

Até que tinha valido a pena esperar pra ver aquela cena. Depois meu pai me contou que alguns bichos do mar se perdiam, porque confundiam as luzes da cidade com a luz da lua. Acabavam morrendo atropelados ou algo assim, só por irem pro lugar mais iluminado. Sei lá se foi isso mesmo, não curtia essas histórias tristes, então tentei não prestar muita atenção.

Voltamos pro carro e começamos a dar uma volta pela cidade. Meu pai me disse que eu poderia escolher um lugar para comer, mas naquele fim de mundo que estávamos não tinha um restaurante que prestasse. Aí decidi seguir meu instinto de tartaruga e pedi para pararmos na lanchonete mais iluminada.A comida estava péssima e eu ainda peguei infecção alimentar.

Hoje faço parte de um projeto que ajuda as tartarugas a acertarem o caminho do mar, para garantir que elas não tenham o mesmo destino que eu tive ao me guiar pelas luzes erradas.

Por Daniel Generalli